banho – Poema

banho

hoje no chuveiro ocorreu um banquete
enquanto os pensamentos vadios invadiam violentamente a minha visão
junto com os desafinados pingos d'água
brotou-me a vontade de saborear o belo sabonete que lá estava

numa mordida me deliciei com tal sabor
limpo e de frutas cítricas
que nenhum doce se assemelha

encantado com o restaurante
busquei ajuda do garçom
completei um drink de shampoo
me embriagando de forma espiralesca

quando me dei conta, estava bêbado
completamente lisergiado
a visão turva, expelindo coisas medonhas
lá do fundo de minhas entranhas

desligado o chuveiro
vou-me embora de meu magnífico jantar
mas a saciedade de tão bela refeição
faz-me titubear em meus oscilantes passos
deslizando pelo vômito com bolhas de sabão
aterrisando duro eu bato a cabeça
no gélido chão
colorindo minha linda banheira
num expressionismo majestral
feito de óleo, guache, e meu fluído cerebral

“Felizmente está bem cheiroso”
pensou o legista horas depois

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