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  • inerte – Poema

    inerte 

    a criança acorda de mais uma noite de sono
    decide finalmente ser o algoz. uma pedra
    escolhida a dedo por ser uma pedra qualquer
    ela arremessa a pedra como se alcançasse algo
    mas a pedra não quica no rio
    afunda

    levada pelas correntezas
    a pedra não lutou contra o menino
    arrastada por todo o leito fluvial
    atingindo diversos peixes
    mas sem tocar nenhum

    a pedra conhece todos os oceanos,
    todos os leitos, todo a predação
    tantas oportunidades de metamorfose
    se tornar bauxita, rubi, topázio
    participar de aneis, armaduras, parafusos
    mas ela permanece sendo arrastada
    sem questionar
    sem desviar
    sem tentar
    mesmo contemplando o ardor das rochas magmáticas
    as esculturas criadas do mármore
    até mesmo a velocidade do silício

    uma massa solta
    indiferente à fundição que a espera
    a pedra quer ser escolhida em paz
    sem sedimentar sua existência
    até virar mais uma pedra

    não vou, não sou, eu quero
    quero ser arremessado
    um Geworfenheit
    afundando até morrer