
besouro
Sempre fui de brincar
com besouros. Deixando-os de ponta cabeça,
vendo se contorcerem,
sem desconfiar que quando enfim voltassem,
logo seriam pisoteados.
Quando a vida me deu antenas,
nem tentei me levantar.

besouro
Sempre fui de brincar
com besouros. Deixando-os de ponta cabeça,
vendo se contorcerem,
sem desconfiar que quando enfim voltassem,
logo seriam pisoteados.
Quando a vida me deu antenas,
nem tentei me levantar.

banho
hoje no chuveiro ocorreu um banquete
enquanto os pensamentos vadios invadiam violentamente a minha visão
junto com os desafinados pingos d'água
brotou-me a vontade de saborear o belo sabonete que lá estava
numa mordida me deliciei com tal sabor
limpo e de frutas cítricas
que nenhum doce se assemelha
encantado com o restaurante
busquei ajuda do garçom
completei um drink de shampoo
me embriagando de forma espiralesca
quando me dei conta, estava bêbado
completamente lisergiado
a visão turva, expelindo coisas medonhas
lá do fundo de minhas entranhas
desligado o chuveiro
vou-me embora de meu magnífico jantar
mas a saciedade de tão bela refeição
faz-me titubear em meus oscilantes passos
deslizando pelo vômito com bolhas de sabão
aterrisando duro eu bato a cabeça
no gélido chão
colorindo minha linda banheira
num expressionismo majestral
feito de óleo, guache, e meu fluído cerebral
“Felizmente está bem cheiroso”
pensou o legista horas depois

sonho
perdido
errando nas vielas de
um palco onírico
e a realidade
uma espiral ao mesmo ponto de antes
sonhei com você esta noite
(ou nos vimos semana passada?)
irrelevante
[apenas sentir]
angústias em todo lugar
ferindo minha pele imunda
me faça fugir
[para algum lugar bom
escapo
admiro a imensidão
retorno
minha carcaça corpórea
sou?
prisioneiro da carne
eterno fluido transcendente
não te vejo mais
capto apenas impressões
[que escorrem igual suas lágrimas naquela noite]
do que um dia nós fomos
meu cristalino converge toda a realidade
em uma fotografia opaca de mim mesmo
não esboço mais
nem sentimentos nem razões
nenhum rascunho de alma nasce do meu lápis sem ponta
tão presente e tão longínquo
por dentro grito
[mas não preste atenção
queimo minha face com o rubor
a falsa lanterna que me dá esperança
e proclamo
mas danço conforme o palco
e a plateia
não lembro mais
perdi a lembrança da maciez do seu toque
acho que esqueci quem sou

festas
luzes radiantes rasgando minha retina
dormente
sons estonteantes em minha mente sussurram
ausente
“olhe as perturbações que sua maldita cabeça
sente
não é seu lugar, até quando vai continuar,
demente”
finjo que não ouço, mas está em todo lugar
as vezes penso, se meu lugar não é em marte
longe de tudo isso, quem sabe assim eu seja
feliz