Tag: isto não é um poema

  • besouro – Poema

    besouro

    Sempre fui de brincar
    com besouros. Deixando-os de ponta cabeça,
    vendo se contorcerem,
    sem desconfiar que quando enfim voltassem,
    logo seriam pisoteados.

    Quando a vida me deu antenas,
    nem tentei me levantar.
  • banho – Poema

    banho

    hoje no chuveiro ocorreu um banquete
    enquanto os pensamentos vadios invadiam violentamente a minha visão
    junto com os desafinados pingos d'água
    brotou-me a vontade de saborear o belo sabonete que lá estava

    numa mordida me deliciei com tal sabor
    limpo e de frutas cítricas
    que nenhum doce se assemelha

    encantado com o restaurante
    busquei ajuda do garçom
    completei um drink de shampoo
    me embriagando de forma espiralesca

    quando me dei conta, estava bêbado
    completamente lisergiado
    a visão turva, expelindo coisas medonhas
    lá do fundo de minhas entranhas

    desligado o chuveiro
    vou-me embora de meu magnífico jantar
    mas a saciedade de tão bela refeição
    faz-me titubear em meus oscilantes passos
    deslizando pelo vômito com bolhas de sabão
    aterrisando duro eu bato a cabeça
    no gélido chão
    colorindo minha linda banheira
    num expressionismo majestral
    feito de óleo, guache, e meu fluído cerebral

    “Felizmente está bem cheiroso”
    pensou o legista horas depois
  • sonho – Poema

    sonho

    perdido
    errando nas vielas de
    um palco onírico
    e a realidade
    uma espiral ao mesmo ponto de antes

    sonhei com você esta noite
    (ou nos vimos semana passada?)
    irrelevante
    [apenas sentir]

    angústias em todo lugar
    ferindo minha pele imunda
    me faça fugir
    [para algum lugar bom

    escapo
    admiro a imensidão
    retorno
    minha carcaça corpórea
    sou?
    prisioneiro da carne
    eterno fluido transcendente

    não te vejo mais
    capto apenas impressões
    [que escorrem igual suas lágrimas naquela noite]
    do que um dia nós fomos
    meu cristalino converge toda a realidade
    em uma fotografia opaca de mim mesmo
    não esboço mais
    nem sentimentos nem razões
    nenhum rascunho de alma nasce do meu lápis sem ponta
    tão presente e tão longínquo
    por dentro grito
    [mas não preste atenção

    queimo minha face com o rubor
    a falsa lanterna que me dá esperança
    e proclamo
    mas danço conforme o palco
    e a plateia

    não lembro mais
    perdi a lembrança da maciez do seu toque
    acho que esqueci quem sou
  • festas – Poema

    festas

    luzes radiantes rasgando minha retina
    dormente
    sons estonteantes em minha mente sussurram
    ausente
    “olhe as perturbações que sua maldita cabeça
    sente
    não é seu lugar, até quando vai continuar,
    demente”
    finjo que não ouço, mas está em todo lugar
    as vezes penso, se meu lugar não é em marte
    longe de tudo isso, quem sabe assim eu seja
    feliz