gostaria que todos meus amigos morressem de uma forma trágica todos em um único momento
assim nunca mais eu precisaria encarar ninguém e teria motivo suficiente para pisar sem ser tocado com os sobreviventes limpando minhas sujeiras e bebendo dos meus rastros
dessa forma pode ser que eu não precise enfrentar a remota possibilidade de perceber que talvez eu não seja um bom amigo
a criança acorda de mais uma noite de sono decide finalmente ser o algoz. uma pedra escolhida a dedo por ser uma pedra qualquer ela arremessa a pedra como se alcançasse algo mas a pedra não quica no rio afunda
levada pelas correntezas a pedra não lutou contra o menino arrastada por todo o leito fluvial atingindo diversos peixes mas sem tocar nenhum
a pedra conhece todos os oceanos, todos os leitos, todo a predação tantas oportunidades de metamorfose se tornar bauxita, rubi, topázio participar de aneis, armaduras, parafusos mas ela permanece sendo arrastada sem questionar sem desviar sem tentar mesmo contemplando o ardor das rochas magmáticas as esculturas criadas do mármore até mesmo a velocidade do silício
uma massa solta indiferente à fundição que a espera a pedra quer ser escolhida em paz sem sedimentar sua existência até virar mais uma pedra
não vou, não sou, eu quero quero ser arremessado um Geworfenheit afundando até morrer
luzes radiantes rasgando minha retina dormente sons estonteantes em minha mente sussurram ausente “olhe as perturbações que sua maldita cabeça sente não é seu lugar, até quando vai continuar, demente” finjo que não ouço, mas está em todo lugar as vezes penso, se meu lugar não é em marte longe de tudo isso, quem sabe assim eu seja feliz